Nova metodologia de ensino
com base na tecnologia começa no Rio
O projeto 'Gente'
deve chegar a 125 escolas em 2016
Uma
nova metodologia de ensino que utiliza amplamente os novos meios tecnológicos está
nascendo na cidade do Rio de Janeiro. Os 180 alunos do 7º, 8º e 9º ano da
Escola Municipal André Urani, na favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, já estão
integrados ao Projeto Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais, o
Gente. Com isso, esses jovens são os pioneiros da iniciativa da Secretaria
Municipal de Educação (SME) que, além de tirar da escola velhas práticas da
educação tradicional, como a utilização de quadros negros e giz, dá autonomia
ao aluno para decidir o ritmo de seu próprio aprendizado.
De
acordo com o subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais
da SME e idealizador do projeto Gente, Rafael Parente, a iniciativa representa
uma resposta ao sistema de aprendizagem vigente na maioria das escolas, que
segundo ele é “falido”.
“Em
primeiro lugar, é dar certeza que o modelo atual não responde aos anseios dos
alunos. A escola de hoje está meio falida, já há um consenso para mudar o
trabalho dos educadores” ressalta Parente, que explica como foi o processo para
criar o projeto: “como todos se perguntavam como conseguir um novo
modelo de escola, comecei a acompanhar discussões de pais e alunos em redes
sociais e visitei escolas com outros modelos não tradicionais. A partir daí,
unimos alguns conceitos e teorias de profissionais em pedagogia, neurociências,
entre outras áreas, e achamos um direcionamento educacional para criar esse
novo conceito, o Gente”, revelou ao Jornal do Brasil.
A
nova metodologia de ensino tem como objetivo proporcionar ao aluno autonomia e
criar um espaço de construção colaborativa do conhecimento, a partir das novas
tecnologias. Para alcançar isso, os 180 alunos são divididos em 30 “famílias”
de seis, independentemente da série em que estão matriculados.
Nesse
primeiro momento de implantação do Gente, denominado diagnóstico, os próprios
alunos escolheram suas “famílias” de acordo com suas afinidades, mas passam por
testes de habilidades cognitivas, que são as matérias tradicionais, e não
cognitivas, que são provas para saber, por exemplo, como eles pensam o mundo, o
senso crítico, o nível de inteligência emocional e perseverança. Quando o
diagnóstico terminar, os alunos serão realocados de acordo com o resultado dos
testes.
Cada
aluno do projeto recebeu um tablet ou netbook para realizar as tarefas do
dia-a-dia, onde eles próprios escolhem a ordem e como fazer, de acordo com um
itinerário pré estabelecido semanalmente pelo Gente. Ao chegarem à escola, os
jovens estudantes passam por um processo para compartilhar com o grupo a
expectativa para o dia e, com a ajuda dos professores, no projeto denominado
“mentores”, cada um irá decidir o quê e como estudar. À livre escolha, eles
também têm a opção de escolher eletivas como línguas estrangeiras, esportes e
artes.
Todas
as semanas os estudantes passarão por testes, mas eles também escolherão quando
querem realizá-los. Rafael Parente explica: “o conteúdo começa a ser passado pelos
professores na segunda-feira e seguem durante toda a semana. Na quinta-feira,
na parte da tarde, todos devem ter respondido às seis perguntas, de três níveis
de dificuldade, formuladas por um sistema inteligente chamado Máquina de
Testes. No entanto, se na terça-feira o aluno já se sentir confiante para
respondê-las, ele poderá requisitar os testes ao seu mentor”.
Caso
o aluno não consiga atingir o resultado esperado, já na sexta-feira ele passa a
ter atendimento especial sobre aquela dúvida específica, ou seja, uma espécie
de reforço. “É a personalização do ensino para o estilo de cada aluno. Todos
evoluem em ritmo diferente e, aqui, o estudante não reprova o ano, ele repete
especificamente aquilo que não entendeu durante a semana”, afirma Parente.
Professor
agora é mentor e multidisciplinar
A
função tradicional do professor, aquela com quadro negro e giz, já está
totalmente mudada na escola André Urani. Como ressalta André Couto,
representante da ONG Tamboro, responsável por orientar os professores nessa
nova metodologia de ensino, o momento é de um “processo de passo a passo”.
“É
um processo de transição porque os professores, agora chamados mentores, foram
formados numa matriz de ensino e agora atuarão de forma completamente
diferente. Aqui eles deixam de ser professores de uma só disciplina. Uma vez
mentor, significa que ele terá um olhar generalista e participará do itinerário
formativo de cada aluno, independente da sua formação. Ao invés de explicar a
matéria, o professor-mentor vai, junto com o aluno, resolver e buscar o
conhecimento por meio de educopédias na
web, aplicativos, livros interativos. Essencialmente, eles devem saber como
estimular o processo de aprendizado do estudante”, explica André Couto.
Uma
das novas professoras mentoras do colégio André Urani é Flávia Soares Martins.
Formada em Ciências e 24 anos lecionando, Flávia se diz uma entusiasta do
projeto.
“A
educação tradicional está fora de moda. No meu tempo, se tivesse algo do tipo,
ninguém iria querer matar aula, agora ficou interessante estudar. O interesse
das crianças pelas máquinas é fascinante. Não podemos saber se todas as escolas
chegarão a esse patamar, mas o que importa é que estamos lutando por melhorias
na educação. Terão alguns erros, mas o que faremos é lapidar e aparar as
arestas para melhorar cada vez mais esse projeto”, ressalta a mentora.
Cada
professor-mentor fica responsável por 18 alunos, ou seja, três “famílias” de
seis.
Oportunidade
Um
dos alunos do colégio Eduardo Paiva da Silva, 11 anos, que estaria no 7º ano,
comemora a mudança de escola. Ex-aluno da Escola Municipal Francisco de Paula
Brito, ele diz estar “muito feliz” com a nova oportunidade em sua vida.
“É
muito bom porque eu não tinha isso na minha última escola. Agora eu tenho a
oportunidade de usar tecnologia. Isso vai melhorar meus estudos e vou aprender
mais”, garante, entusiasmado, Eduardo.
Escola
que nem parece escola
Quem
visita o colégio André Urani certamente vai estranhar o ambiente que, na
verdade, nem se parece com uma escola. Em lugar das diversas salas de aula,
três salões com diversas mesas para seis pessoas dão conta dos 180 alunos do
projeto. Já as paredes, extremamente coloridas, estão estampadas com fotos de
alunos do colégio, para identificá-los à escola, e frases para estimular o futuro
de personalidades como Charles Chaplin, Bob Marley e Oscar Niemeyer. Uma delas,
do arquiteto Niemeyer, diz: “A gente tem que sonhar, senão as coisas não
acontecem”.
Futuro
Ciente
das constantes evoluções tecnológicas, o idealizador do Gente, Rafael Parente,
afirma que o projeto “não é pronto e imutável”.
“Deve
ser constantemente repensado e recriado, inclusive para acompanhar a rapidez
com que surgem as novas tecnologias. A educação deve seguir a mesma
velocidade das tecnologias para as escolas não ficarem para trás”, afirma
Parente.
De
acordo com o subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais, o Gente pretende
atingir, até 2014, além do André Urani, mais cinco escolas da rede municipal de
ensino, 30 em 2015 e 125 em 2016.
*Do
Programa de Estágio do Jornal do Brasil
FUI...Grande abraço a todos!