Expectativa de vida cresce, mas
vivemos mais tempo doentes
por Fernando Pivettim, da Agência USP
Aumento de tempo de enfermidade se deve à falta de políticas eficientes
de prevenção.Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Apesar do aumento da expectativa de vida da população brasileira, um
estudo desenvolvido pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP aponta que os
idosos estão vivendo com menor qualidade de vida, já que convivem mais tempo
com doenças crônicas típicas da faixa de idade. De acordo com a pesquisa,
exames e tratamentos preventivos ajudam a evitar esse processo.
Segundo o médico geriatra Alessandro Campolina, parte desse aumento de
tempo de enfermidade se deve à falta de políticas de prevenção eficientes e
voltadas para a população mais velha. Ele é o autor da pesquisa que buscou
avaliar a ocorrência de um processo chamado de compressão da morbidade. Esse
conceito, surgido na década de 1980, lançava a hipótese de que, com o
envelhecimento das populações, os anos ganhos pelas pessoas com a melhoria dos
serviços de atendimento seriam anos vividos em bom estado de saúde.
O estudo
Segundo o estudo-base da pesquisa, até a década de 1970 e 1980, se tinha
a ideia central de que o aumento de expectativa de vida da população seria uma
espécie de fracasso em termos de saúde. “Os estudiosos pensavam que, embora
conseguissem fazer as pessoas viverem mais tempo, elas viviam em uma situação
de saúde pior”, explica Campolina.
A partir da década de 1980, as pesquisas passaram a contrariar as
hipóteses anteriores, afirmando que a população vivia mais e em um quadro de
saúde bom. A nova teoria também levantava o ponto de que a população humana
apresenta um limite máximo, ainda não estabelecido com precisão, de tempo de
vida. À medida que a melhoria das condições de vida vai se estabelecendo, a
população tende a se aproximar cada vez mais desse limite.
Da mesma forma que a expectativa de vida ia sendo trazida para o limite
máximo de vida da pessoa, o limiar de aparecimento de doenças crônicas, comuns
na população idosa, também vai sendo empurrado.
“Num primeiro momento, o tempo limite máximo de aparecimento das doenças
crônicas não mudaria com o aumento da expectativa de vida. Posteriormente,
observou-se que o início de aparecimento das doenças também é postergado,
mantendo, e talvez diminuindo, o tempo de vida da pessoa portando a doença”. A
diminuição desse intervalo entre o aparecimento das doenças e a morte, a
ciência dá o nome de compressão da morbidade.
Análises em domicílio
O projeto teve como objeto de avaliação participantes do Projeto Saúde,
Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), desenvolvido pela FSP, que acompanha idosos
da cidade de São Paulo desde o ano 2000 em diversos aspectos, tais como saúde e
qualidade de vida. “No estudo, nos atentamos para aspectos sociodemográficos,
condições de saúde, capacidades e desempenho de atividades de vida diária pela
população idosa”, ressalta Campolina.
A coleta dos dados era realizada por uma equipe especializada, que colhia
as informações nos domicílios e traziam os dados para análise. “O interessante,
do ponto de vista temporal, era comparar a população de 2000 e de 2010 para
saber se houve compressão da morbidade, e os estudos mais recentes estão nos
dando uma resposta negativa para essa pergunta”, completa o pesquisador.
Prevenção e resultados
O estudo buscou levantar a importância das medidas de prevenção das
doenças crônicas na contribuição para a chamada compressão da morbidade. A
conclusão é de que algumas das principais doenças crônicas que acometem a
população idosa, entre elas a hipertensão arterial sistêmica, doença articular,
doença cardíaca, diabetes mellitus tipo 2, doença mental, doença pulmonar
crônica e doença cerebrovascular, uma vez prevenidas, contribuem de maneira
significativa para a melhoria da qualidade de vida e para a longevidade dos
idosos.
Campolina ressalta que esses métodos preventivos não são frequentemente
incentivados na população mais velha, e que isso é uma visão equivocada. “A
medicina ainda acredita que prevenção é sinônimo de pacientes jovens. Mas a
prevenção de doenças é uma estrategia afirmativa, mesmo nos idosos, para
prolongar o tempo de vida e ganhar qualidade de vida, e o estudo comprovou
isso”, afirma.
FUI...
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